quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Greg Palast: Os urubus que pretendiam escolher o próximo presidente

viomundo 7 de outubro de 2011 às 9:21

por Greg Palast,

O magnata dos fundos hedge Paul Singer gosta de comer carcaças em decomposição no café da manhã. O que ele mastiga e engole é de embrulhar o estômago, mas os convivas dele também provocam enjoo: os bilionários Ken Langone e os irmãos Koch, Charles e David.

Singer convocou reunião do clube dos meninos bilionários com o propósito de escolher o próximo presidente para nós. O estilo antigo de escolher presidentes – democracia, contagem de votos e tudo isso – nunca foi o favorito dessa turma. Posso falar isso com base nas minhas investigações sobre cada um destes cavalheiros para o The Guardian. Quando a Estátua da Liberdade tem pesadelos, ela sonha que esses caras vão se juntar para tomar a América através de um golpe de estado via dinheiro.

Benvindos ao pesadelo. Singer, Langone e os Koch decidiram, no mês passado, eleger Chris Christie para nós. A pseudo-campanha do governador de Nova Jersey naufragou antes de decolar. Mas isso não importa. Agora que a Suprema Corte efetivamente acabou com os limites de financiamento de campanhas e permitiu contribuições secretas através das corporações, essa nova combinação de ultra ricos não deve ser vista como apenas como uma ameaça aos Democratas e sim à Democracia.

Deixe-me apresentar uma lista dos arquivos que cheiram a enxofre desse homens que querem dar as cartas.

Bilionário 1: Ken Langone

Langone gosta de ser identificado como o fundador do Home Depot, um sujeito simples, de avental azul levando uma sacola de parafusos.

Mas ele também foi o homem, com seus colegas da extrema direita, por trás da Database Technologies (DBT). Foi na minha primeira investigação sobre o Langone, em 2000, que descobri que a DBT tinha criado uma lista de vários milhares de “criminosos” – quase todos negros, todos inocentes, todos eliminados das listas de eleitores da Flórida pela cliente da DBT, Katherine Harris. E a empresa do Langone sabia exatamente o que estava acontecendo.

O que qualifica o Langone para escolher nosso presidente? Nas palavres dele mesmo: “Eu sou doido, eu sou rico”.

Bilionários 2 e 3: David e Charles Koch

Você acha que já leu tudo sobre os irmãos bilionários. Bem, aqui vai mais:

Em 1996, Richard Elroy, agente do FBI, disse àminha equipe que petróleo havia sido roubado da reserva indígena Osage, em Oklahoma. Ele e outro homem filmaram o furto, segundo testemunhas pessoalmente encomendado por Charles Koch. Uns barris aqui, uns barris ali.

E foram somando: cerca de um bilhão e meio de barris de petróleo roubado, diz um especialista, um terço da fortuna dos Koch naquela época. David e Charles dividiram o produto do furto através da empresa privada deles, a Koch industries.

Bilionário 4: Paul Singer

Agora chegamos ao rei da carcaça, Paul Singer, conhecido como Singer O Urubu. Não fui eu que o apelidei. O nome Urubu foi dado a eles pelo primeiro ministro britânico e pelo Banco Mundial. Recentemente, o ex-enviado das Nações Unidas Winston Tubman sugeriu que eu perguntasse ao Singer ou aos sócios deles, “Você sabe que está provocando a morte de bebês?”

O que esse cara faz, bota veneno no leite das crianças? Pior: ele retira o leite.

O modus operandi do Singer é encontrar pequenas dívidas de nações pobres esquecidas (Peru e Congo estavam no cardápio dele). Ele espera os contribuintes dos Estados Unidos e da Europa perdoarem a dívida da nação pobre, depois espera um pouco mais pelas ofertas de ajuda em alimentos, medicamentos e empréstimos para investimentos. Aí Singer ataca. Legalmente, toma todos os recursos e todo o dinheiro que estava indo para o país em desespero. As trocas comerciais param, os fundos ficam congelados e toda a economia efetivamente se torna refém.

Singer, então, exige das nações que estão oferecendo ajuda que paguem regates monstruosos para permitir que as trocas comerciais recomecem. No programa Newsnight da TV BBC nós descobrimos que Singer exigiu 400 milhões de dólares do Congo por conta de uma dívida que ele comprou por 10 milhões de dólares. Se ele não recebe seus 4.000% de lucro, ele pode efetivamente matar a nação de fome. E eu não digo isso figurativamente – digo matar de fome, sem comida. No Congo-Brazzaville, no ano passado, um quarto de todas as mortes de crianças com menos de cinco anos de idade foram provocadas por má nutrição.

Para a BBC, tentei fazer ao Urubu Singer a pergunta do diplomata sobre a matança de bebês, mas não pude ir além de George Gershwin. (Na torre de Nova York que abriga o poleiro do bilionário, um sósia de Gershwin, de fraque e cartola, toca canções em um piano de calda para a entrada triunfal de Singer).

E não são apenas pobres carcaças africanas. Durante as investigações para o meu livro “Vulture’s Picnic” (em português seria piquenique do urubu), descobri que o primeiro grande ataque de urubu do Singer foi às vítimas americanas de amianto.

Pano de fundo: Os executivos de três empresas – a operadora de minas WR Grace, a construtora de chapas para revestimento de paredes USG e a empresa de materiais de construção Owens Corning – sabiam que a exposição ao amianto em suas operações estava matando os trabalhadores. Quando foram pegas e processadas, as empresas entraram com pedido de falência e concordaram em dar quase toda a receita bruta das operações às pessoas que estavam morrendo ou que ficaram doentes por causa do amianto.

Mas o Singer teve uma ideia melhor. Essas empresas, como você pode imaginar, valiam quase nada e o Singer comprou a Owens Corning por uns trocados.

Se ele pudesse reduzir o montante pago às vítimas, Singer poderia aumentar muito o valor da Corning. Então, começou a campanha de relações públicas, atacando os trabalhadores que estavam morrendo, dizendo que todos estavam fingindo.

Um dos atacantes era um cara chamado George W. Bush.

Em Janeiro de 2005, o presidente organizou um encontro televisionado para promover um “especialista” que declarou que mais de meio milhão de trabalhadores que processavam a indústria do Singer eram mentirosos. Se os trabalhadores não podiam respirar, ele disse ao presidente, não era culpa do amianto.

O “especialista” não era um médico mas, notavelmente, sua “pesquisa” foi em parte financiada por… Paul Singer. Como Bush também foi. Depois da morte de Ken Lay, da Enron, Singer e seu bando de urubus do fundo hedge Elliot International se tornaram os maiores contribuintes do Comitê Nacional Republicano. É difícil medir com precisão sua generosidade porque parte desta ajuda chega por portas laterais. Por exemplo, Singer colocou dinheiro na campanha difamatória do Swift Boat, contra o adversário de Bush, John Kerry. (Nota do Viomundo: o anúncio, na televisão, distorcia a atuação de Kerry na guerra do Vietnã).

O ataque legal, político e de relações públicos aos trabalhadores a beira da morte reduziu as compensações que seriam pagas pelas empresas de amianto, aumentando seu valor. Singer então revendeu a Corning com o belo lucro de um bilhão de dólares.

É legal. É brilhante. É doente. É Singer.

Um dos meus gols favoritos do Singer foi a trama bem sucedida para legalmente roubar o Tesouro do Peru. Um dos advogados americanos do país me disse, de boca aberta, como o Singer deixou o velhaco presidente do Peru, Alberto Fujimori, fugir do país para escapar de acusações de assassinato. Singer tomou o avião de Fujimori. E o urubu deu seu preço: um dos últimos atos de Fujimori como presidente antes de fugir foi fazer com que sua pobre nação pagasse 58 milhões de dólares ao Singer.

Por que os bilionários precisam comprar a Casa Branca

Um executivo da Koch Industries (ele não sabia que estava sendo gravado) disse que perguntou a Charles Koch, que já tinha um bilhão de dólares de herança, porque Koch estava usurpando alguns dólares, por semana, dos índios americanos. Koch disse a ele: “eu quero a minha justa parte, e é tudo isso”.

Tudo isso, claro, inclui a Casa Branca.

Colocar Bush na Casa Branca valeu ouro para esses cavalheiros – mais, na verdade. E agora, os Koch, Singer e Langone se juntaram para escolher um candidato que, rezam, possa tomar de volta o imóvel 1600 da Avenida Pensilvânia.

Langone

A lista de “criminosos” da empresa DBT, do Langone, incluía apenas pessoas inocentes por isso, certamente, você não encontraria ali o nome do Langone. Em 2004, o Procurador Geral de Nova York, Eliot Spitzer, apresentou acusação formal contra o Langone de conspiração, acusando o bilionário de subverter as investigações de reguladores da bolsa de valores sobre negócios suspeitos do banco de investimentos do Langone.

Um detalhe técnico encerrou a ação civil de conspiração.

Mas agora, a reforma bancária e de ações do Obama, apesar de fraca, dá aos reguladores novos poderes para manter um olho independente sobre as travessuras no mercado de ações. Para Langone, escolher o presidente significa cerrar o olho regulador.

Os Koch

Elroy, o homem do FBI, disse aos nossos investigadores que o Departamento de Justiça iria permitir que o FBI algemasse Charles Koch por conta da acusação de roubo do petróleo dos índios Osage. Porém, diz Elroy furioso, os amigos bem financiados pelos Koch, na época senadores Bob Dole e Don Nickles, entraram em cena – e Koch saiu livre. Sem acusação.

Dennis DeConcini, senador do Arizona na época, quis saber por que acusações civis ou criminais nunca foram apresentadas contra os Koch. Essa não era uma pergunta muito sábia. O senador me disse que os Koch apeaçaram destruí-lo politicamente no comitê do Congresso que ele presidia se ele fosse adiante com as investigações a respeito do roubo do petróleo dos indígenas. Ele continuou, mas sua carreira política não.

Durante o governo Clinton, as indústrias dos Koch foram acusadas criminalmente por violarem a Lei da Água Limpa. Sob o presidente Bush, as acusações, mas não a água, foram lavadas.

Em outras palavras, o crime paga bem – se você escolher quem vai ser o xerife.

Paul Singer

Paul Singer apostou pesado na indústria de amianto e depois foi arrumar o cassino, ajudando a instalar Bush na Casa Branca. Ou seja, ele tinha um presidente disposto a bater nos trabalhadores de amianto e apoiar a chamada “reforma ilícita” que solapou as alegações das vítimas. O que as vítimas perderam, Singer ganhou.

Mas existem problemas no horizonte para Singer. Em 2007, o governo Britânico proibiu Singer e todos os especuladores-urubus de dívidas do Terceiro Mundo de coletarem suas libras de carne no Reino Unido. Outras nações europeias estão seguindo o mesmo caminho.

Vários congressistas americanos estão brigando por uma proibição ao estilo britânico das atividades do Singer. (Até mesmo a Corporação Chevron está reclamando dos ataques dos urubus. Quando a Chevron chama banqueiros de inescrupulosos, eles devem ser realmente muito inescrupulosos). Sem uma caneta de veto sobre o Congresso, Singer pode perder centenas de milhões de dólares.

Singer está jogando na defesa, mas é melhor no ataque: para coletar contra a Argentina, seus lobistas conseguiram aprovar no congresso uma lei que estrangulava as trocas comerciais com a nação da América do Sul. Obama e a Secretária Hillary Clinton bloquearam esse ato louco contra nosso aliado. Como resultado Singer não é um gaúcho contente. Vai haver sangue. Obama terá que pagar.

Todos eles

Existe uma coisa que todo bilionário quer: outro bilhão. E isso está ameaçado pelos planos do Obama de taxar os lucros hoje isentos.

Caras como Singer e Langone não pagam impostos como eu e você. Enquanto pagamos impostos sobre salários, os lucros de especulações tipo urubu e arbitragem são via de regra declaradas como “carried interest”, efetivamente não são taxados. É um benefício de um bilhão de dólares para os bilionários, e todos os candidatos republicanos juraram manter essa brecha na legislação aberta e garantir que eu e você paguemos os impostos para o Singer.

Infelizmente, para Singer, os Koch e Langone, os candidatos republicanos que estão beijando a bunda dos bilionários não parecem ser elegíveis.

Então, o Clube dos Meninos Bilionários instigou o Governador Christie, o bully de Jersey, a usar os músculos para entrar no Escritório Oval. Christi não decolou, o que não foi surpresa. Mas se eles vão escolher o candidato republicano ou recuar para a tática de difamar nos bastidores, uma frágil coisa chamada democracia tem poucas chances contra o poder de tsunami dos talões de cheques somados do quarteto.

As reportagens investigativas de Greg Palast são veiculadas no programa Newsnight da BBC. O livro dele, “Vulture’s Picnic: in Pursuit of Petroleum Pigs, Power Pirates, and High-Fincance Carnivores” será lançado pela Penguin USA no dia 14 de Novembro de 2011.

Tradução: Heloisa Villela

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Eleição rejeitou udenismo moralista

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Bresser-Perreira, intitulado "Dois males afinal evitados", publicado na Folha. Ex-ministro de FHC, o economista faz uma dura crítica às baixarias da campanha de José Serra. Um raro caso de lucidez de origem tucana:

As eleições do último domingo foram livres e democráticas. Foram próprias de uma democracia consolidada, porque o Brasil conta com uma grande classe média de empresários e de profissionais e com uma classe trabalhadora que participa dos ganhos de produtividade.

Porque conta com um sistema constitucional-legal dotado de legitimidade e garantido por um Estado moderno, que é efetivo em garantir a lei e crescentemente eficiente em gerir os serviços sociais e científicos que permitem reduzir a sua desigualdade.

É verdade que os dois principais candidatos não conseguiram desenvolver um debate que oferecesse alternativas programáticas e ideológicas claras aos eleitores. Por isso, a grande maioria dos analistas os criticou. Creio que se equivocaram.

O debate não ocorreu porque a sociedade brasileira é hoje uma sociedade antes coesa do que dividida. Sem dúvida, a fratura entre os ricos e os pobres continua forte, como as pesquisas eleitorais demonstraram. Mas hoje a sociedade brasileira é suficientemente coesa para não permitir que candidatos com programas muito diferentes tenham possibilidades iguais de serem eleitos - o que é uma coisa boa.

Os dois males que de fato rondaram as eleições de 31 de outubro foram os males do udenismo moralista e potencialmente golpista e o da americanização do debate político.

Quando setores da sociedade e militantes partidários afirmaram que a candidata eleita representava uma ameaça para a democracia, para a Constituição e para a moralidade pública, estavam retomando uma prática política que caracterizou a UDN (União Democrática Nacional), o partido político moralista e golpista que derrubou Getulio Vargas em 1954.

Não há nada mais antipolítico ou antidemocrático do que esse tipo de argumento e de prática. As três acusações são gravíssimas; se fossem verdadeiras - e seus proponentes sempre acham que são - justificam o golpe de Estado preventivo. Felizmente a sociedade brasileira teve maturidade e rejeitou esse tipo de argumento.

Quanto ao mal da americanização da política, entendo por isso a mistura de religião com política em um país moderno.

Os Estados Unidos, que no final da Segunda Guerra Mundial eram o exemplo de democracia para todo mundo, experimentaram desde então decadência política e social que teve como uma de suas características a invasão da política por temas de base religiosa como a condenação do aborto.

De repente um candidato passa a ser amigo de Deus ou do diabo, dependendo de ser ele “a favor da vida” ou não. A separação entre a política e a religião - a secularização da política - foi um grande avanço democrático do século 19. Voltarmos a uni-las, um grande atraso, a volta à intolerância.

A sociedade brasileira resistiu bem às duas ameaças. E a democracia saiu incólume e reforçada das eleições.

Em seu discurso após a eleição, Dilma Rousseff reafirmou seu compromisso com os pobres, ao mesmo tempo em que se dispôs a realizar uma política de conciliação, não fazendo distinção entre vitoriosos e vencidos.

Estou seguro que será fiel a esse compromisso, como o foram os últimos presidentes. Nossa democracia o exige e permite

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Carta maior e o tucanato f a regressão ética do tucanato; 06-10)

PARA AVALIAÇÃO DO MOVIMENTO FEMINISTA:

MONICA SERRA X RUTH CARDOSO



"...Mônica Serra, passou a tarde de hoje em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense,[...] a mulher de Serra partiu para o ataque à adversária do marido, a petista Dilma Rousseff. A um eleitor evangélico, que citava Jesus Cristo como o "único homem que prestou no mundo" e que declarou voto em Dilma, a professora afirmou que a petista é a favor do aborto. "Ela é a favor de matar as criancinhas", disse a mulher de Serra ao vendedor ambulante Edgar da Silva, de 73 anos. [Estadão, 14-09-2010]

[Ruth Cardoso, esposa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, falecida em 24-06-2008, era] "...feminista declarada, a favor do aborto,que considerava uma liberdade feminina..."
[Estadão, 24, 06-2008] 

publicado por carta maior 06/10

http://www.cartamaior.com.br

Ciro Gomes critica ligações espúrias da revista Veja

Ciro Gomes critica ligações espúrias da revista Veja

6 de outubro de 2010

O jornalista perguntou: A Veja passou da conta no primeiro turno? E Ciro Gomes respondeu: A Veja? A Veja passa da conta. Vive a serviço do que há de mais espúrio na sociedade brasileira. É isso que a gente deve explicar para as pessoas. Que a Veja tenha longa vida, mas que todos fiquem sabendo que a Veja não é uma observadora neutra da vida brasileira: ela está a serviço dos interesses internacionais, da privataria, da escória brasileira. Isso sempre foi. Desde que a turma de melhor nível saiu, virou isso (referindo-se a jornalistas mais antigos). Um instrumento de achaque.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os estragos que a velha mídia pode causar

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Para atacar o centro do poder e da coligação lulo-dilmista, a velha mídia se aliou a um empresário que já passou dez meses na cadeia.

Nassif explicou quem é o empresário que serviu de “fonte” para a “Folha”, na nova denúncia a envolver o nome da (agora) ex-ministra Erenice Guerra. O tal empresário narra episódios ocorridos há meses e que, convenientemente, resssurgem agora – do nada – em plena reta final da eleição.

Acho normal que a imprensa vasculhe as relações de personagens próximos aos principais candidatos. É a tal função fiscalizadora do poder. O curioso é saber: por que a fiscalização é unilateral? Nos velhos jornais e revistas, nenhuma palavra sobre Ricardo Sérgio, sobre Preciado e tantos outros personagens próximos a Serra. Leandro Fortes escreveu sobre o silêncio generalizado - na velha mídia – a respeito da denúncia que ele, Leandro, levou ás páginas da CartaCapital: mostrou como a empresa de Verônica Serra, a Decidir, quebrou o sigilo de milhões de brasileiros.

Esse é o jogo. Sujo. Por isso, desde que Dilma passou Serra nas pesquisas, dedico-me a escrever aqui: calma, gente. Serra está em queda, a mídia já nao tem tanto poder. OK. Mas, juntos, podem sim provocar estragos. Meus argumentos estão num texto intitulado “Sobre fábulas e o menosprezo”.

Acabamos de ver comprovada minha tese. O governo Lula aceitou a pressão midiática, e Erenice se demitiu.

A “Folha” derrubou Erenice. Esse é o fato. Um jornal que perdeu muita força, mas que hoje – como “produtor de conteúdo” para as edições do “JN” e para os programas de Serra na TV – ainda tem algum peso.

As pesquisas mostram que grande parte do eleitorado não muda o voto em Dilma por conta do escândalo. Isso é fato.

Outros fatos:

- nas camadas médias, entre eleitores mais escolarizados e com renda mais alta, Dilma caiu sim após o bombardeio; se dependesse apenas desse segmento, a eleição iria pra segundo turno;

- nos setores populares e mais próximos do lulismo, a tática do escândalo não pega; o que poderia pegar é o terror religioso; e isso está em marcha, como escrevi aqui; nos últimos dias, tive relatos de gente que, no trabalho, já começou a ouvir de colegas (de origem humilde) que “o pastor pediu pra não votar na mulher do Lula, porque ela é a favor do aborto”.

Isso quer dizer o que? Por agora, os números indicam vitória no primeiro turno, e Serra ainda tem que pagar um preço alto por bater tanto: cresce a rejeição a ele. Isso é um “meio” problema. Para Serra forçar o segundo turno, basta que Dilma perca votos – mesmo que o tucano não os ganhe. Para isso, existe Marina Silva. Ela é claramente contra o aborto, evangélica, pode receber parte dos votos que Dilma venha a perder se a campanha do terror religioso prosperar.

Vamos aos números. No DataFolha (com resultado muito parecido ao do Sensus), Dilma tem 51%, Serra 27% e Marina 11%. Se calcularmos que Plinio e os nanicos cheguem a 1%, teríamos o seguinte quadro: Dilma 51% x Todos os outros 39%. Parece muito, mas não é. A diferença é de 12 pontos. Portanto, bastaria Serra tirar 6 pontos de Dilma, transferindo esse total para Marina, Plinio e para o próprio tucano.

Como?

Paulo Henrique Amorim já avisou que Onésimo vem aí. Quem é ele? O tal araponga que a turma do PT – em dado momento- teria tentado contactar (e contratar?). Onésimo conversou com a “Veja” essa semana.

Portanto, teremos nos próximos dias o seguintes quadro:

- governo ainda a sangrar pelo escândalo de Erenice e a saída da ministra;

- novas denúncias do consórcio “Veja”/”Folha”, que ganharão farto espaço no “JN”;

- campanha terrorista nas Igrejas.

Serra não precisa de muito pra forçar o segundo turno: basta que ele chegue a 29%, Marina suba para 15% e Dilma caia para 45%.

Impossível? Eu não acho. Tenho dito isso há 3 meses. Ainda mais porque parte do eleitorado dilmista pode ter dificuldades com a exigência de dois documentos para votar.

O governo Lula não enfrentou o PIG durante 8 anos. Franklin Martins teve um papel importante, democratizando em parte o acesso às verbas públicas de publicidade. O PIG chiou, a grana agora vai para mais jornais, não só a velha turma. Isso foi feito.

Mas e o trabalho político e pedagógico de mostrar o que é essa velha mídia? Lula poderia ter travado esse combate. Não o fez. Tentou ganhar no gogó. Em parte teve sucesso, mas mesmo assim precisou encarar segundo turno em 2006 – graças a 15 dias de bombardeio, numa eleição que parecia ganha.

E se agora vierem mais 15 dias de bombardeio, como em 2006? Vocês acham impossível virar 6 pontos percentuais? O guru indiano, os pastores e padres de direita, os Civita, o Ali Kamel, a família Marinho e o Serra. Nem eu. Lamento estar em péssima compania.

Como enfrentar esse quadro? Com resposta política dos movimentos sociais. O ato público covocado pelo Barão de Itararé é só um exemplo. Mas falta o ator principal entrar em campo: Lula precisa vir a público e peitar a velha mídia.

Não o fez durante 8 anos. Fará isso agora em 15 dias? O futuro da eleição pode passar por aí.

E, para concluri: mesmo que Dilma vença no primeiro turno, terá que pagar um preço altíssimo pelo fato de Lula não ter usado sua força para enfrentar esse complexo midiático – transformado em partido politico. Dilma iniciaria o governo já na defensiva. Encurralada pela velha mídia, e sem o apelo da mística lulista.

Um quadro político complicado. Mesmo que os números das pesquisas e da economia, hoje, apontem o contrário.